Uma das realidades
mais evidentes da Sagrada Escritura é a ordenança de sermos santos. O vocábulo
grego “hagios” traduzido como “santo” em nossas bíblias, expressa um sentido de
separação, consagração, dedicação exclusiva. Tal sentido, é expresso
principalmente no texto de 1Pe 1:14-16, que diz:
“Como
filhos obedientes, não vos conformeis às concupiscências que antes tínheis na
vossa ignorância; mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também
santos em todo o vosso procedimento; porquanto está escrito: Sereis santos,
porque eu sou santo.”
Diante disso, surgem
várias questões: como assim “separado”? em que eu tenho que ser diferente do
mundo? Que tipo de separação devo viver?
O Sentido
de Santidade
A Bíblia define
santidade como sendo uma obra proveniente da graça de Deus (1Co 1:2, 6:11; Hb
2:11, 10:10) através da expressão “sendo santificados” ou “são santificados”.
Deus nos santifica pelo sangue de Cristo e por meio de nossa fé nele (At
26:18). Essa santificação é proveniente de Deus.
Por outro lado, o
homem deve, conforme exposto por Pedro em sua primeira carta (citado acima),
buscar a santidade. Aqui, entende-se a santidade como um caminho que possui
duas vias: o afastamento do pecado e a aproximação de Deus. Tal santidade tem
relação com a ideia de pureza ou integridade moral, não com perfeição. A Bíblia
sempre emprega verbos que sugerem progressão e continuação no processo de
santificação – os textos falam em pessoas que “estão sendo santificadas” e
semelhantes. Com tal base, analisemos as duas vertentes que Pedro sugere com
“sede santos”:
1.
Afastar-se
do Pecado
Se afastar do pecado
implica um prévio conhecimento do que é o pecado. Creio ser impossível se
afastar de algo que não se conhece. Portanto, por meio da Palavra de Deus,
podemos conhecer o que é certo ou não, e assim, nos afastar de toda espécie de
mal (1Ts 5:21,22).
Afastar-se do mal
envolve a graça de Deus que nos capacita a vencer as tentações livrando-nos do
mal, como Cristo nos ensina a orar: “e
não nos deixes entrar em tentação; mas livra-nos do mal” (Mt 6:13). Quando nos afastamos do
pecado, estamos cumprindo a vontade de Deus, dedicando nossa vida a não fazer
aquilo que desagrada ao Senhor, estamos nos consagrando ao Pai.
2.
Achegar-se
a Deus
Além de se afastar do
pecado, devemos nos aproximar de Deus. Alguém pode questionar: ora, mas se eu
me afastar do pecado, automaticamente não estarei me aproximando de Deus? É uma
boa questão, mas pense o seguinte: suponhamos que uma pessoa está dentro de um
buraco cheio de lama (o pecado), de repente, por meio da ajuda de alguém (graça
de Deus) ela sai do buraco. Onde ela está? Na terra, certo? Porém, mesmo ela
tendo saído do buraco, ainda resta um grande caminho até o céu. Esse caminho é
o que devemos trilhar em nosso segundo passo.
Tiago escreve dizendo
“Chegai-vos a Deus e ele se
achegará a vós” (Tg
4:8), ou seja, o primeiro passo é dado por quem? Por nós, certamente. Quando
nos achegamos a Deus, fazemo-nos participantes de sua glória e estaremos
purificados de todo pecado pelo sangue de Cristo. O salmista declara “Por que mais vale um dia nos teus átrios
do que em outra parte mil. Preferiria estar à porta da casa do meu Deus, a
habitar nas tendas da perversidade”
(Sl 84:10). Com tal dito, o salmista expressa seu desejo de estar próximo de
Deus, como também nós precisamos desejar. Devemos buscar intimidade com Deus.
As
supostas “diferenças”
Muitos argumentam que
os crentes devem ser “quadrados”, diferentes do mundo de forma exterior. Gostar
de coisas diferentes, agir sempre de forma diferente e até andar de forma
diferente. Tal atitude se assemelha muito à dos fariseus hipócritas que se
preocupavam muito com a aparência (Mt 23:27,28). O que precisamos evitar é o
pecado, aquilo que desagrada a Deus, não tudo aquilo que as pessoas fazem. Ora,
se um ímpio compra determinado tipo de roupa eu não posso comprar porque sou “diferente”?
Se eles falam de uma forma eu tenho que falar diferente? Se eles andam de um
jeito, gostam de determinado tipo de música ou frequentam alguns lugares, tenho
que me abster disso? Em nome de quê? É isso pecado? Se for, estaremos corretos
em evitar; porém, do contrário, faríamos sacrifícios de tolo evitando coisas
que não são pecaminosas em nome de uma falsa aparência.
Veja que Paulo quando
diz que não devemos nos conformar com o mundo em Romanos 12:1, ele argumenta
que devemos nos transformar pela renovação da nossa mente, não de nossa
aparência. Devemos pois buscar a diferença em nosso coração, agindo de forma
diferente quando uma situação favorece o pecado. Ternos ou bíblias debaixo do
braço não nos torna diferentes diante de Deus. Devemos ser santos em nosso
“procedimento” não em nossa aparência. Paulo fala sobre essas restrições
criticando-as de forma bastante dura:
“Se morrestes com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que
vos sujeitais ainda a ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: não
toques, não proves, não manuseies (as quais coisas todas hão de perecer pelo
uso), segundo os preceitos e doutrinas dos homens? As quais têm, na verdade,
alguma aparência de sabedoria em culto voluntário, humildade fingida, e severidade
para com o corpo, mas não têm valor algum no combate contra a satisfação da carne” (Cl 2:20-23)
Santidade é a lei moral
de Deus para que vivamos justamente e praticando aquilo que agradável ao Pai.
Não precisamos de leis e restrições que aparentam ter grande valor, mas não
passam de futilidades exteriores. Deus se importa mais com nosso coração (1Sm
6:7) e com nossas ações (Jo 13:17) do que com aquilo que demonstramos para os
outros. Como diz o lema do Metodismo “Santidade ao Senhor” e não ‘aos homens’.
Conclusão
A santidade, como mandamento de Deus
para o seu povo (1Pe 1:14-26), é fruto da obra redentora de Cristo, pela qual
podemos (e somos capacitados a) nos afastar do pecado e nos aproximar de Deus.
Devemos buscar uma vida íntegra junto à Deus e sua perfeita lei, não nos
preocupando em sermos exteriormente diferentes no vestir, falar, andar, comer,
etc, mas sim em rejeitar aquilo que é mal e louvar o que for bom. Existe muita
diferença entre parecer diferente e fazer a diferença. Muitos pensam estar
fazendo grande coisa tentando se mostrar diferente em tudo com o objetivo de
[a] parecer diferente, mas na verdade só atraem indiferença e/ou deboches; por
outro lado, quando zelamos pelo que é bom e rejeitamos o mal, demonstramos que
realmente somos separados para Deus, atraindo respeito e admiração muitas
vezes, até mesmo, abrindo portas para a pregação da Palavra e do agir do Espírito Santo na vida das pessoas que nos observam.
----------------------------------------------------por Rafael Nogueira