A primeira vista pode parecer apenas uma questão teológica e complexa a
ser debatia nas cadeiras de um seminário de teologia; no entanto, a questão
entre a personalidade ou a utilidade do Espírito Santo é muito importante para
nossa vida prática. De maneira geral, os jovens se interessam pouco por
doutrinas e longos estudos sistemáticos da Escritura, porém, mostram-se
bastante abertos há conhecer um pouco mais sobre o Espírito de Deus. Entendamos
agora, qual a diferença prática entre o Espírito ser um ‘poder’ ou uma
‘pessoa’.
Poder ou
pessoa: o que isso significa?
Por definição, ‘pessoa’ é um ser dotado de inteligência, vontade e
sentimentos; alguém que é capaz de raciocinar, de querer e de ter emoções
próprias. Em suma, um ser pessoal contém o que chamamos de ‘personalidade’. Por
outro lado, ‘poder’ significa, em uma descrição bastante superficial,
capacidade ou autoridade para fazer ou deixar de fazer algo. Isso significa
que, se alguém tem o ‘poder de curar’, ele tem capacidade e autoridade para
realizar uma cura.
A partir dessas definições, certamente você já percebeu que se trata de
uma relação bem distinta. Pessoa e poder são completamente diferentes, sendo
este último impessoal, neutro, comparável a um simples objeto ou uma ação
involuntária. Alguém que tenha ‘personalidade’, isto é, que é uma pessoa,
não pode ser comparado a um objeto,
muito menos a uma ação; antes, trata-se de um ser com identidade própria, com
vontade e consciência.
Você deve estar se perguntando: “Tá bom, já entendi essa diferença, mas
o que isso tem de prático?”. Bem, várias aplicações são possíveis para a vida
prática através dessas definições, porém, nenhuma é mais importante do que a
seguinte: como você se relaciona com o Espírito Santo? Se ele é um ‘poder’,
então você deveria perguntar “Como posso ter mais do Espírito Santo?”. Do
contrário, caso for ele uma pessoa, seu questionamento será um pouco diferente:
“Como o Espírito Santo pode ter mais de mim?”. Afinal, de qual das duas formas
você busca se relacionar com o Espírito Santo?
Ele é um
ser pessoal, não um poder
Talvez, não há verso na Bíblia mais claro sobre a personalidade do Espírito
Santo do que as palavras de Jesus Cristo em João 16:13, que diz:
“Quando vier, porém,
aquele, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não
falará por si mesmo, mas dirá o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas
vindouras.
Imagine que você está lá, entre os discípulos, ouvindo essa frase de
Jesus; o que você pensaria a respeito desse “Espírito da verdade”: que trata-se
de um poder ou de uma pessoa? Bem, certamente concordaremos que nenhum tipo de
‘poder’ guia, fala, ouve ou anuncia alguma coisa, concorda? Somente um ser
pessoal pode realizar tais coisas. Evidentemente, existem outros textos nas
Escrituras que mostram o Espírito Santo falando (At 13:2), como se tivesse
vontade própria (1Co 12:11), intercedendo (Rm 8:27) e como possuindo
sentimentos (Rm 15:30; Ef 4:30), enfim, me faltaria espaço para discorrer sobre
os textos que mostram sua evidente personalidade.
De qualquer forma, fica claro que o Espírito Santo não é um ‘poder’
impessoal que nos é dado para que usemos e abusemos, mas sim uma pessoa
espiritual que deve ser respeitada, adorada e servida. Além disso, a Bíblia diz
que o Espírito Santo tem poder (Lc 4:14; Rm 15:13,19), seria um absurdo que um
‘poder’ tivesse poder. Portanto, o Espírito de Deus é um ser pessoal,
Todo-poderoso, cheio de Glória e Majestade e que procede do Pai, assim como
Cristo, já que ocupa o lugar de “ajudador” [do grego ‘parakletos’], o substituto
de Cristo na terra.
Eu posso
ter mais dele ou ele pode ter mais de mim?
A Bíblia nos mostra um ocorrido bastante interessante para que possamos
analisar. Em Atos capítulo 8, conta-se a história de um homem chamado Simão,
habitante de Samaria. Como vemos nos versículos de 9 a 11, ele era um mágico ou
ilusionista que fazia muitas supostas maravilhas e o povo pasmava diante dele.
Porém, quando Filipe (um dos Diáconos da Igreja) chegou à cidade pregando o Reino
de Deus (verso 12), Simão creu na mensagem e até foi batizado (versículo 13)
por Filipe, ficando admirado pelos prodígios que Filipe operava no meio do
povo.
Em pouco tempo, os apóstolos souberam que Samaria recebeu a palavra e
enviaram-lhes dois apóstolos, a saber, Pedro e João (verso 14). Quando eles
chegaram a Samaria, oraram para que os que haviam se convertido recebessem
também o Espírito. Simão, vendo isso, fez o que está narrado nos versos 18 e
19:
“Quando Simão viu que
pela imposição das mãos dos apóstolos se dava o Espírito Santo, ofereceu-lhes
dinheiro, dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem
eu impuser as mãos, receba o Espírito Santo.
Pedro, com toda sua maestria apostólica, repreendeu a Simão duramente,
de modo que até o próprio Simão se assustou com a loucura que havia proposto.
Qual foi seu erro? Oferecer dinheiro em troca do Espírito Santo demonstrou
algumas coisas sobre a pessoa de Simão:
1.
Ele não sabia quem era o Espírito de Deus;
2.
Ele desrespeitou o Espírito ao fazer uma
oferta para ‘comprá-lo’;
3.
Ele negligenciou a personalidade do Espírito
Santo e tratou-o como um objeto.
Erros gravíssimos que poderiam ter lhe custado muito caro se não
tivesse se arrependido do que fizera (versículo 24). E nós, como estamos
buscando nos relacionar com o Espírito Santo? Estaríamos agindo como Simão?
“Ah Rafael, impossível. Jamais sequer passou pela minha mente a ideia
de oferecer algo em troca do Espírito Santo como intuito de compra-lo” – alguém
poderia dizer. Porém, será mesmo verdade isso?
Poder de
Deus para sua vida
Certamente você já ouviu a frase “pagar o preço” relacionado a alguma
coisa espiritual, certo? Esse preço pode ser alguns jejuns, uma busca mais
profunda ou frequentes subidas ao monte para orar. Agora, qual a diferença
entre isso e dinheiro? As duas formas não buscam oferecer um preço por
pagamento? Deus não se preocupa com o tipo de ação que estamos praticando, mas
sim com nossa intenção. Existem pessoas que vão todos os dias à Igreja, fazem horas
de jejuns e longas orações, porém, têm apenas o objetivo de alcançar alguma
bênção de Deus e não o próprio Deus.
Com o Espírito Santo não é diferente; muitos dizem busca-lo, mas na
verdade, buscam apenas poder. Estamos buscando servir ao Espírito, amá-lo,
adorá-lo, viver de modo a agradá-lo, ou estamos somente barganhando com ele?
Naturalmente, o poder de Deus que emana do seu Espírito estará sobre aqueles
que o amam e o buscam de coração, colocando-se a serviço dele. Temos que nos
colocar à disposição do Espírito de Cristo, para recebermos o poder, não o contrário.
Estamos buscando a face de Deus ou suas mãos? Queremos a presença de Deus ou o
poder dele?
O Espírito Santo é uma pessoa espiritual, ele é o Consolador enviado
por Cristo. Devemos busca-lo com nossas forças e, quando estivermos juntos a
ele de forma sincera e pura, com o ardente desejo de servir a Deus e de
entregar nossa vida no altar do nosso coração como uma oferta verdadeira a
Deus, então o poder de Deus virá sobre nós e seremos capacitados a realizar a
sua soberana vontade.
Quero que pense nisso: Como o Espírito Santo pode ter mais de você?
Encontre a resposta e ponha em prática; certamente sua vida será transformada!
por Rafael Nogueira