segunda-feira, janeiro 13

O que era o "espinho na carne" de Paulo?


    Em sua segunda carta aos Coríntios, o Apóstolo Paulo vinha defendendo seu apostolado e a veracidade de sua mensagem e da Palavra que carregava. Falsos mestres haviam se infiltrado na Igreja de Corinto e estavam questionando a autoridade de Paulo. No meio de sua argumentação, Paulo diz:

"E, para que me não exaltasse demais pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de que eu não me exalte demais" (2Co 12:7) 

    Tal frase têm confundido os estudiosos, mas também têm servido de consolo e de inspiração para vários Cristãos de todos os tempos. Podemos, à luz do texto, saber o que realmente era esse "espinho na carne" a que Paulo se refere? Porque isso lhe foi dado? O que podemos aprender com isso? É o que trataremos nesse estudo. Que Deus abençoe!

O que era o "espinho na carne"?


    Os Judeus sempre entenderam a palavra "espinho" como algo ruim, que remete à dor, sofrimento, angústia, humilhação, aflição, etc. Porém, jamais interpretavam essa palavra com sentido de tentação para pecado. Baseando-se nesse pressuposto, os estudiosos têm fornecido algumas suposições para o que poderia ser o "espinho na carne" mencionado pelo Apóstolo:

  • Alguém que o perseguia
    Uma das suposições é que Paulo havia ganho um inimigo que o perseguia onde ia, infringindo dor e sofrimento à ele. Baseiam-se no fato de que Paulo disse: "um mensageiro de satanás para me esbofetear". Aplicam ainda que esse "mensageiro" poderia ser um conjunto de pessoas (os Judeus) que, de cidade em cidade, promoviam perseguições incessantes ao Apóstolo (At 20:23; 2Tm 3:11).
    O problema com essa interpretação é que, nem no livro de Atos, nem em nenhuma outra carta o Apóstolo menciona um perseguidor específico (um mensageiro de satanás). Quanto às perseguições, elas não são exclusivas de Paulo, afinal, todos os Cristãos são perseguidos (Mt 5:10, 10:23; Lc 11:49; Jo 15:20; 2Ts 1:4). Esse tipo de "espinho" na carne, todos nós temos: "E na verdade todos os que querem viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições." (2Tm 3:12).

  • Uma ação direta de satanás
     Com base no livro de Jó, alguns entendem que o "mensageiro de satanás" não é uma pessoa física, mas um espírito maligno que atormentava Paulo, porém, com ações limitadas (Jó 2:1). Essa pensamento também não procede muito, em função do fato de que a Bíblia garante que os espíritos maus não têm esse nível de influência na vida dos santos (1Jo 5:18). Outro fato a se considerar é que, dentro do contexto em que Paulo defende seu apostolado, seria algo estranho comprovar a veracidade de sua Palavra baseando-se no fato de que um espírito maligno o "esbofeteava". 

  • Uma doença física
    Essa suposição, particularmente, considero a melhor. Baseado no fato de o espinho estar "na carne" e não "no espírito" (se fosse o caso de um espírito maligno), é possível que o "espinho" (sofrimento) de Paulo seja uma doença física decorrente de sua idade ou sequela de algum atentado que sofreu (2Co 11:25,26).
    Seus escritos em outras cartas fortalecem essa interpretação. Em Gálatas 4:13 Paulo escreve: "e vós sabeis que por causa de uma enfermidade da carne vos anunciei o evangelho a primeira vez". Essa enfermidade mencionada por ele, talvez seja uma deficiência na visão: "Porque vos dou testemunho de que, se possível fora, teríeis arrancado os vossos olhos, e mos teríeis dado." (Gl 4:15).
    Essa interpretação também se encaixa no contexto. Paulo diz que o espinho lhe fora dado para que não se exaltasse por causa das revelações. Com uma deficiência física na visão, ele poderia entender que, mesmo com grandes revelações e vendo coisas impronunciáveis, contudo na carne, estava debilitado, fraco, e com uma capacidade abaixo do normal. O "mensageiro de satanás" desse contexto não seria literal, mas um pensamento mau que lhe informava a todo tempo de sua debilidade visual, acusando-o de fraqueza. Tal aflição, lhe era recompensada com a renovação a cada dia pela força de Deus, "Por isso, de boa vontade antes me gloriarei nas minhas fraquezas, a fim de que repouse sobre mim o poder de Cristo." (2Co 12:9).


Para que não se exaltasse


    Independente do significado real do "espinho na carne", Paulo nos informa que tal coisa lhe fora dada para que "não se exaltasse por causa da excelência das revelações". No contexto, é possível que os falsos mestres que se infiltraram em meio aos Coríntios se gloriavam de suas obras, de suas visões e de seus ensinos. Paulo os lembra de que, como aqueles falsos mestres, poderia se gloriar caso quisesse (2Co 11:18), pois tinha muitos mais obras do que eles (2Co 11:22-28). No entanto, sua glória não estava na carne (Gl 6:13:14), mas sim em suas fraquezas, "Porque quando estou fraco, então é que sou forte." (2Co 12:10).
    Paulo, diferentemente daqueles mestres, sabia que sua glória vinha de Deus e não do homem. Ele mesmo diz: "Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor. Porque não é aprovado aquele que se recomenda a si mesmo, mas sim aquele a quem o Senhor recomenda." (2Co 10:18). Em função das excelentes revelações que recebia, o Apóstolo recebeu de Deus um "espinho" na sua carne para que não se exaltasse. Tal espinho, servia-lhe como um lembrete de suas debilidades e fraquezas, as fim de que ele sempre se voltasse para Deus e para a sua graça: "A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza." (2Co 12:9).

O que podemos aprender com esse exemplo?


    É bastante oportuno que o "espinho na carne" permaneça sem uma interpretação única, a fim de que todos os Cristãos possam aplicá-lo à alguma perseguição, necessidade, doença, aflição ou algo semelhante que estejam sofrendo. A palavra inspiradora de Deus a Paulo "A minha graça te basta" deve lembra-nos de que Deus está no controle e mesmo que as tribulações permaneçam, que a cura não aconteça ou que nossas necessidades não sejam supridas, ainda temos a graça de Deus conosco, e isso nos basta. 
    Todos padecemos perseguições, muitas delas sem motivos justos (At 14:19), mas devemos nos revestir da força que vem do Senhor (Ef 1:19) porque "por muitas tribulações nos é necessário entrar no reino de Deus." (At 14:22). Não devemos nos esquecer que "a fraqueza de Deus é mais forte que os homens" (1Co 1:25) e que nós, sendo fracos, somos fortificados em Cristo, nosso Senhor (2Co 12:10).

Notas de Aplicação pessoal:
  • Devemos nos alegrar nas tribulações (leia Romanos 5:3-5)
  • Devemos humildemente, reconhecer nossas fraquezas (leia 2 Coríntios 12:5)
  • Devemos nos contentar com a graça de Deus (leia 2 Coríntios 12:9)
  • Devemos saber que, pela nossa fraqueza, o poder de Deus nos aperfeiçoa (leia 2 Coríntios 12:9,10)

 Proposta de Estudo:
  1. Qual a relação de Hebreus 12:10 com a fala de Paulo em 2 Coríntios 12:7?
  2. As palavras de Paulo que estudamos concordam com as de Jesus em Mateus 5:11,12 ? Leve em consideração o que o mesmo apóstolo diz em 2Co 4:17.
  3. De que forma devemos lidar com as perseguições? Elas são boas para nosso crescimento Espiritual?
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por Rafael Nogueira
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